Cidade de Blumenau, Brasil

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sexta-feira, 25 de março de 2011

Brasil quer menos imposto, mas carece de políticos que levantem essa bandeira

Inexistem no Brasil partidos comprometidos em transformar essa demanda da sociedade por menos impostos em programas de governo – a exemplo do Partido Republicano nos Estados Unidos



Enquete realizada por VEJA.com nesta semana revelou que os brasileiros estão descontentes com a carga tributária brasileira e não concordam com o posicionamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da candidata do PT à presidência, Dilma Rousseff, que defendem publicamente a arrecadação de impostos no total de 33,58% do PIB em favor de “um sistema de bem-estar social”, a exemplo das “nações desenvolvidas”. Do total de leitores que participaram da enquete, 50,25% não concordam com a postura do governo por acreditar que a gestão competente dos recursos elimina a necessidade de aumentar tributos. A segunda opção mais votada, com 40,38%, aponta total discordância com os impostos elevados, que só serviriam “para sufocar a iniciativa privada e o consumo”. Com votações menos expressivas, a opção “Concordo em parte” foi escolhida por 5,76% dos participantes, e a “Concordo plenamente”, por 3,60%. No total, foram contabilizados 1944 votos. Os leitores também participaram com comentários, criticando, em sua maioria, os impostos altos, que não são transformados em serviços públicos de qualidade para a população.

O resultado evidenciou o enorme descontentamento dos participantes com os altos impostos vigentes no país. Analistas ouvidos por Veja.com apontam, no entanto, que o Brasil carece de representantes na classe política que lutem para traduzir esse descontentamento em reformas efetivas.

De acordo com o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, a dificuldade de se avançar na discussão deste tema advém de um “vácuo político”. Ele argumenta que inexistem no Brasil partidos comprometidos em transformar essa demanda da sociedade por menos impostos em programas de governo – a exemplo do Partido Republicano nos Estados Unidos, que tem na redução da carga tributária uma de suas principais bandeiras. “É preciso ter uma oposição ativa que bata nesta tecla. Nós não temos um partido liberal, que se assuma como tal, do ponto de vista econômico e político”, pontua.

Cortez explica que a ausência de um porta-voz para este tema possui estreita relação com a história recente do país. “A visão liberal é associada à direita, que, por sua vez, é associada ao regime militar. Isso constrange o crescimento de um partido liberal no país”, explica.

Outro aspecto preocupante é o fato de a agenda política nacional pautar-se significativamente em assuntos de curto prazo. Os governantes preocupam-se com a reeleição e ninguém quer perder recursos para implementar complexos programas de governo. “Se nenhum dos entes federativos (União, estados e municípios) quer perder recursos, fica difícil discutir reforma tributária”, afirma Cortez.

O economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, destaca a semelhança do resultado da enquete com o que foi constatado pelo cientista político Alberto Carlos de Almeida, no levantamento que deu origem ao livro “O Dedo na Ferida: Menos Imposto, Mais Consumo” (Editora Record, 196 páginas). “O descontentamento expresso pela população é o mesmo”, afirma. A pesquisa amostral realizada pelo autor em 2009 em todo o território nacional mostrou que 63% da população apoiaria, por exemplo, maior redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) da linha branca e dos automóveis. Na região Sul, o índice chegou a 79%. O livro revelou, na avaliação de Velloso, que a população está pronta para responder bem a políticas de redução de impostos. “Os políticos, contudo, não percebem ou não querem incorporar esse pleito em suas agendas”, avalia.

(Fonte: VEJA.com)

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